Uma Extensão Universitária promovendo ações de diálogo entre Ciência e Fé

 
Una Extensión Universitaria que promueve el diálogo entre Ciencia y Fe
 
A University Extension promoting dialogue between Science and Faith

 

 

Elane Chaveiro Soares  

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

elaneufmt@gmail.com 

https://orcid.org/0000-0003-0937-9187

 

 

Sección: Extensión en movimiento

Recepción: 15/06/2023                Aceptación final: 28/09/2023

 

Para citación de este artículo: Soares, E. C. (2024). Uma Extensão Universitária promovendo ações de diálogo entre Ciência e Fé. Revista Masquedós, 9(11), 1-10. https://doi.org/10.58313/masquedos.2024.v9.n11.249

 

 

 

Resumo

A extensão em movimento relatada aqui apresenta as experiências do Projeto de Extensão FÉCIÊ, que vem sendo desenvolvido há quatro anos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Brasil, visando a promoção do diálogo entre Ciência e Fé Cristã, a partir do âmbito acadêmico. Desde o seu início, o projeto articula a extensão com as demandas da sociedade, tendo em vista o desenvolvimento acadêmico, científico e cultural do Estado. Com base interdisciplinar e de divulgação científica, as ações envolvem a Ciência e a Fé religiosa, unindo-as aos diversos campos do conhecimento para destacar e questionar, de forma epistêmica e rigorosa, a ideia de conflito entre estes campos, ainda que isto seja mais comum, apenas nas imagens encontradas na América Latina. Baseada em uma metodologia qualitativa, que privilegia o levantamento bibliográfico, com posteriores ações de estudo, debate e produção de textos, esta extensão se desenvolve a partir de ações processuais contínuas, com encontros presenciais e virtuais entre os participantes e especialistas, na constituição de rodas de conversa, seminários, jornadas, palestras e na construção de material escrito em forma de resumos e resenhas. Participam da dinâmica estudantes e professores de graduação e de pós-graduação, bem como da Educação Básica, além de outros interessados ou apenas curiosos na temática. Estabelece-se a interação dialógica da academia com a sociedade, na medida em que se abre espaço para o diálogo, para a troca de conhecimento e para a participação, permitindo o contato entre as perspetivas da Ciência e da Religião Cristã de forma orientada, virtuosa e fundamentada.

 

Palavras-chave: Ciência e Fé; diálogo; extensão; Mato Grosso.

 

Resumen
Este relato de extensión presenta las experiencias del Proyecto de Extensión FÉCIÊ, que se desarrolla desde hace cuatro años en la Universidad Federal de Mato Grosso (UFMT) – Brasil, con el objetivo de promover el diálogo entre Ciencia y Fe Cristiana, en el ámbito académico. Desde sus inicios, el proyecto ha articulado la extensión con las demandas de la sociedad, con miras al desarrollo académico, científico y cultural del Estado. Con una base interdisciplinaria y de divulgación científica, las acciones involucran la Ciencia y la Fe religiosa, uniéndolas con los diferentes campos del conocimiento para resaltar y cuestionar, de manera epistémica y rigurosa, la idea de conflicto entre estos campos, aunque esto es más común, sólo en las imágenes que se encuentran en América Latina. Basada en una metodología cualitativa, que favorece la investigación bibliográfica, con posteriores acciones de estudio, debate y producción de textos, esta extensión se desarrolla a partir de acciones procedimentales continuas, con encuentros presenciales y virtuales entre participantes y expertos en los temas, en la constitución de la conversación, círculos, seminarios, conferencias, charlas y la creación de material escrito en forma de resúmenes y reseñas. En la dinámica participan estudiantes y docentes de pregrado y posgrado, de Educación Básica, así como otras personas interesadas o simplemente curiosas sobre el tema. Se establece la interacción dialógica entre la academia y la sociedad, al abrirse espacios para el diálogo, el intercambio de conocimientos y la participación, permitiendo el contacto entre las perspectivas de la Ciencia y la Religión Cristiana de manera guiada, virtuosa y fundamentada.
 
Palabras clave: Ciencia y Fe; diálogo; extensión; Mato Grosso.

 

Abstract

The moving extension reported here introduces the experiences of the FÉCIÊ Extension Project, which has been taking place for four years at the Federal University of Mato Grosso – Brazil. It aims at promoting dialogue between Science and Christian Faith, from the academic scope. Since its beginning, the project has articulated the extension with the demands of society, aiming at the academic, scientific, and cultural development of the State. Based on interdisciplinarity and scientific dissemination, the actions involve Science and Religious Faith, bringing them together with  many fields of knowledge to highlight and question (in an epistemic and rigorous way) the idea of ​​conflict between these fields, even if this is more common, only in the popular imagination found in Latin America. Based on a qualitative methodology, which privileges bibliographic survey, with subsequent actions of study, debate and text production, this extension develops from continuous procedural actions, with face-to-face and virtual meetings between participants and topic area specialists. This extension implies the set up of conversation circles, seminars, journeys, lectures and the production of written material in the form of summaries and reviews. Participants include undergraduate Basic Education students, postgraduate ones and professors, as well as others interested or just curious about the subject. Dialogical interaction between the academy and society is established, as room for dialogue is made. The exchange of knowledge and meaningful participation allows fruitful and virtuous contact between Science and  Christian Religion standpoints.
 
Keywords: Science and Faith; dialogue; extension; Mato Grosso.

 

 

Introdução

O Projeto de Extensão FÉCIÊ está fundamentado no fortalecimento de um Grupo de Estudos já existente desde 2017, no âmbito da Universidade Federal de Mato Grosso – Brasil (UFMT). Neste grupo, as possibilidades de interação, de aproximação e de diálogo entre Ciência e Fé cristã foram delineadas por fundamentação teórica, a partir de alguns referenciais destacados apenas de forma introdutória neste texto, por se tratar de um relato de extensão em movimento. Assim, objetiva-se com este texto destacar e divulgar uma dinâmica que tem se mostrado bastante promissora, criativa e frutífera, de promover a aproximação e o diálogo entre os campos da Ciência e da Fé Cristã, a partir do ambiente acadêmico que se transforma no conjunto desse processo.

Primeiro, aponta-se para Ian G. Barbour (2004), ao trazer as possíveis reações geradas pelo encontro entre os campos da Ciência e da Religião, perguntando se estas são de amizade, de estranhamento ou de parceria. Este autor auxilia na compreensão dos modelos mentais circunscritos na formação escolar e acadêmica muito presentes na juventude brasileira atual. Para estes, bem como para a maioria dos professores de ciências, especialmente, mas não unicamente, os biólogos, o modelo do conflito é o mais viável ou, como queiram, o mais aceitável.

Barbour, em sua obra intitulada Religion in a Age of science, sistematizou e criou a famosa tipologia de relacionamento entre Ciência e Religião. Barbour conseguiu traçar alguns padrões e, assim, fundou esta área de estudos. O segundo livro, que se apresenta com uma pergunta no título: Quando a ciência encontra a religião: inimigas, estranhas ou parceiras? Foi lançado, em 2004 e tem uma versão mais popular e reduzida, que já foi traduzida para o português e que, atualmente, se encontra esgotado.

Segundo, a importante obra de McGrath (2020, p. 19) destaca que “esse tipo de diálogo precisa ser robusto e desafiador, investigando questões profundas e potencialmente ameaçadoras sobre a autoridade e os limites de cada participante e de cada disciplina”. McGrath (2020, p.19) pondera, ainda, que:

Um diálogo é caracterizado pelo que muitos chamam agora de “virtude epistêmica”, exigindo que cada participante leve o outro a sério, tentando identificar seus pontos fortes e fracos, ao mesmo tempo que deseja aprender com o outro a enfrentar seus próprios limites e vulnerabilidades (McGrath, 2020, p. 19). 

Como uma obra ampla e um dos livros mais respeitados na área de Ciência e Religião, McGrath (2020) auxilia nesta ação de extensão, que busca promover o diálogo, trazendo bons fundamentos para a promoção de uma conversa, que não precisa ser feita apenas nos seminários ou nas igrejas, mas também nas faculdades e universidades. Para este autor, três argumentos iniciais são importantes para a proposta. Primeiro, nem a Ciência nem a Religião podem reivindicar uma descrição total da realidade. Segundo, tanto a Ciência quanto a Religião estão preocupadas em encontrar o sentido da vida e, terceiro há o destaque para a informação de que, nos últimos anos, houve um aumento significativo na conscientização da comunidade científica sobre os problemas mais amplos levantados por sua pesquisa e os limites impostos à capacidade dessa comunidade de respondê-los (McGrath, 2020).

A seguir se pode destacar a obra organizada por Peters e Bennett (2003), na qual se reconhece a amplitude dinâmica e apropriada para o tipo de discussão que se pretende. Nesta obra estão reunidos autores de diversas religiões, culturas e de diferentes contextos científicos e geográficos com vistas à constituição de pontes entre Religião e Ciência. A analogia da ponte serve bem para esta proposta, tendo em vista a promoção de um trânsito entre os dois campos, de modo a promover o crescimento de ambos.

Com o apoio da filosofia de Plantinga (2018) se discute a questão da Ciência, da Religião e do Naturalismo com vistas a se perceber onde, efetivamente, está o conflito. Para Plantinga (2018, p.16): “há um conflito grave entre o naturalismo e a evolução; não se pode aceitar racionalmente a ambos”. Um argumento que é discutido, de forma ampla e deliberada, em um livro dividido em quatro partes, nas quais o autor apresenta, na primeira parte, os argumentos utilizados para a ideia de conflito; na segunda parte, um caso de conflito superficial; na terceira parte, as convergências e, na quarta parte, o conflito profundo e as discussões em torno das concordâncias e discordâncias.

Através da obra organizada por Numbers (2020) se aprende que é preciso checar múltiplas fontes antes de aceitar uma notícia ou uma informação como verdadeira, sob pena de se acreditar em suposições ou pior, em fake news. Algumas das quais até conseguem se tornar “mitos”. Neste livro, utilizado como referência no Projeto de Extensão, são tratados vinte e cinco mitos como, por exemplo, a ideia de que a ascensão do cristianismo foi responsável pelo fim da ciência antiga; que cristãos medievais ensinavam que a Terra era plana; que a física quântica provou a doutrina do livre-arbítrio; que o “design inteligente” representa um desafio científico à evolução, apenas para citar alguns.

Por fim, a recente obra traduzida para o português de Plantinga e Dennett (2022), quando perguntam se Ciência e Religião são compatíveis, propiciando um bom fomento para compreensões a respeito da epistemologia de cada campo.

Outras obras e autores podem também ser citados como: os territórios da Ciência e da Religião de Peter Harrison (2017) e a Alma da Ciência de Nancy R. Pearcey e Charles B. Thaxton (2005). No entanto, a intenção do texto é, principalmente, a de destacar o movimento que deste tipo de extensão vem provocando na estrutura que sustenta a universidade.

O ambiente acadêmico ou de Ensino Superior é propício para perguntar o que ocorre quando visões de mundo se encontram (El-Hani & Sepúlveda, 2004; Riceto & Junior, 2019) e como estas visões vão constituindo a construção e a divulgação dos conhecimentos, a partir da própria universidade que não pode desconsiderar estas visões.

Dessa forma, divulga-se a experiência de Extensão Universitária que tem como particularidade a proposição de um ambiente amistoso – nem por isso, menos rigoroso do ponto de vista epistemológico, social e cultural – para o diálogo entre os campos da Fé Cristã e a Ciência.  Destacam-se algumas contribuições das ações de estudo e de pesquisa utilizados para a construção de conhecimento envolvendo essa atitude de diálogo a partir, também, da prática extensionista. 

 

 

Um grupo de estudos que se transforma em Projeto de Extensão

A ideia de reunir pessoas interessadas na proposta de diálogo entre os campos da Ciência e da Fé foi impulsionada pela participação na primeira conferência realizada pela Associação Brasileira de Cristãos da Ciência (ABC2) em São Paulo – Brasil, em 2016. Desde então, teve início um grupo de estudos, a partir do qual foram realizados vários eventos, no âmbito da Universidade Federal de Mato Grosso.

Nos anos de 2018 a 2019, vários seminários presenciais foram realizados, no âmbito da universidade, destacados por ano/dia/mês e o título de cada um, a seguir:

     2018 – 11/09 – I Seminário Fé e Ciência: Um diálogo possível.

Tema: Modelos para relacionar Fé e Ciência. Com 60 (sessenta) participantes.

     2019 – 11/03 – II Seminário Fé e Ciência: Um diálogo possível.

Tema: Fé, esperança e tecnologia. Com 100 (cem) participantes.

     2019 – 08/08 – III Seminário Fé e Ciência: Um diálogo possível

Tema: Criação ou evolução: precisamos escolher? Com 90 (noventa) participantes.

     2019 – 03/12 – IV Seminário Fé e Ciência: Um diálogo possível

Tema: O ajuste fino do universo. Com 45 (quarenta e cinco) participantes.

 

Todos estes seminários foram realizados, de forma presencial, no auditório da Faculdade das Engenharias, conectado ao Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET). Foram incursões em temas que movimentaram estudantes e demais pessoas interessadas na temática que buscavam compreender, por exemplo, se haveria alguma relação entre os fenômenos físico-químicos da natureza e a teologia natural ou, quais modelos de explicação para a criação e manutenção da vida, ou ainda, por que, no Brasil, existe a noção de que falar de Ciência deveria excluir sumariamente a Religião? Assim, de modo breve, são destacados os temas e os palestrantes das edições realizadas.

O I Seminário lidou com temas básicos e introdutórios da proposta fundamentando a possibilidade de diálogo entre os campos da Fé e da Ciência. O primeiro tema intitulado: Ciência e Fé: é possível relacionar? foi ministrado pela autora deste texto e apontou para as complexas formas de interação entre os campos, considerando a história e atualidade, tomando-as como ponto criativo e necessário para a formação de um espírito científico crítico e mais amplo, pois o conhecimento fornecido por uma única especialidade não é (e não pode ser) o único conhecimento que importa. O segundo tema, Fé e Ciência: um olhar para além dos fatos, foi tema proferido pelo matemático e teólogo Rubem Almeida, que destacou que a realidade é única ainda que os fatos possam ser comprovados em todas as gerações humanas e que, ao se buscar entender os motivos para a interpretação da realidade em sua extensão, ou seja, suas origens primeiras e o seu significado, pode-se perceber que há compromissos de fé, os quais se encontram na academia nos motivos mais íntimos do coração. O terceiro tema, Fé e Política: o direito de dialogar, foi ministrado pelo jurista e autor de livros, Valmir Nascimento (Nascimento, 2016), que enfatizou que o diálogo entre estes campos pressupõe a aproximação entre pessoas. Com efeito, em uma sociedade aberta e democrática, como a do Brasil, com amplo acesso à informação, é necessário reconhecer, à luz da liberdade científica, a legitimidade de oportunidade de qualquer discurso que se proponha científico, sem marginalização e exclusão, com base em privilégios epistêmicos.

O II Seminário realizou três palestras com o esquema apresentado a seguir:

Palestra 1 – Ciência e Religião cristã: lugares sociais na interpretação da realidade, proferida pelo mestre em História e teólogo Emerson Arruda.

Palestra 2 – Consumo maquiavélico? Um ensaio sobre fé, sustentabilidade, tecnologia e relações interpessoais, ministrada pela prof.ª Dr.ª Raquel Martins.

Palestra 3 – Tecnologia moderna e o futuro do homem: uma análise cristã - foi realizada pelo teólogo Gleidson Costa. Para este, a tecnologia não é neutra. Do arado à impressão, a tecnologia sempre moldou a vida humana e informou a compreensão do que significa ser humano. Em sua palestra destacou que os avanços na tecnologia moderna, dos computadores aos smartphones, renderam tremendos benefícios, mas estes desenvolvimentos realmente encorajam o florescimento humano?

Após as palestras, foram destinados períodos de pergunta e resposta entre os participantes. A ação, que durou mais de duas horas, rendeu boas conversas e novos vínculos foram gerados para a continuidade dos estudos.

No III Seminário, o Doutor em Física, Roberto Covolan, resgatou o tema da proposta de diálogo entre Fé e Ciência, em sua palestra, e o filósofo Marcelo Cabral propiciou pensar sobre as visões acerca da evolução do ser humano.

Esta edição ocorreu em duas etapas, a primeira realizada na universidade e a segunda em uma igreja evangélica (Igreja Presbiteriana Renovada de Cuiabá) promovendo a inserção de mais 35 (trinta e cinco) participantes para as discussões. Nesta ação, estabeleceu-se a interação dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade, neste caso, com aqueles que professam a fé evangélica. 

O IV Seminário, realizado no mês de dezembro de 2019, foi a última ação presencial antes da pandemia da Covid-19, que foi demarcada pelo afastamento social, imposto pelas autoridades brasileiras, a partir do mês de março de 2020.

Esta edição ganhou destaque na mídia local como um evento aberto à comunidade acadêmica e interessados e contou com a participação dos professores Emerson Arruda e Roberto Covolan que, a partir de uma abordagem histórica, teológica e teleológica deram subsídios para a compreensão da temática. Os assuntos, temas de palestras e discussões estavam alicerçados na perspectiva de Alister McGrath ao destacar a ideia de que, se a natureza deve desvelar o transcendente, essa deve ser ‘vista’ ou ‘lida’ de alguns modos específicos e estes modos, não necessariamente, precisam ser colocados pela própria natureza. Nesse sentido, a proposta de fundamentar um diálogo amistoso e ao mesmo tempo rigoroso foi o que propiciou sentido a uma dinâmica pouco realizada até então, partindo do âmbito acadêmico.

Eram assuntos que, necessariamente, fomentavam a discussão sobre a existência de Deus e o seu controle sobre todas as coisas e que foram, desde então, estudados e debatidos, a partir de autores internacionais como: McGrath (2017, 2020), Numbers (2020), Barbour (2004), Harrison (2017), Alexander (2017), Pearcey e Thaxton (2005), Bancewicz (2013), entre outros. Estes autores, que até pouco tempo, não eram conhecidos ou divulgados, no Brasil, passaram a ser consultados e utilizados nas pesquisas que investigam episódios de contato entre os campos da Fé e da Ciência a partir da História da Ciência. Assim, entraram também em cena outros autores, como: Ronan (2001) e Andery et al. (2004), para fundamentar o conhecimento e as discussões.

No formato de Projeto de Extensão, a primeira edição foi cadastrada na Universidade Federal de Mato Grosso no ano de 2020 e, desde então, se desenvolve a partir de ações processuais contínuas, com encontros presenciais e virtuais entre os participantes e especialistas nos temas, a partir da universidade para a constituição de rodas de conversa, seminários, jornadas, palestras e na produção de manuscritos em forma de resumos e resenhas. A seguir, os títulos utilizados para os projetos são apresentados:

·      2020 – Uma proposta de diálogo entre ciência e fé na academia.

·      2021 – Diálogo entre ciência e fé na academia no contexto da pandemia.

·      2022 – Ciências contemporâneas e fé: por uma interação dialógica entre universidade e sociedade.

·      2023 - Verdadeiros cientistas, fé verdadeira e os avanços em CTSA.

 

Em 2021, como ação extra de extensão, realizada de modo remoto, ocorreu a I Jornada FÉCIÊ de Mato Grosso - Brasil, nos dias 25 a 27 de novembro, sob o tema: Ciência e Religião na universidade: fundamentos para o diálogo.

Em 2022, o Grupo de Estudos foi contemplado pela Sociedade Internacional para Ciência e Religião (ISSR) com o recebimento de 25 (vinte e cinco) livros, que estão catalogados e colocados à disposição dos estudantes na Biblioteca Central da UFMT.

Em 2023, o Projeto de Extensão vem reunindo, estudando e divulgando a biografia, as produções e o legado de 10 (dez) autores (um por mês), que atuam/atuaram em diferentes campos da Ciência e que apresentam seu relato de como a atividade científica e a fé se relacionam e interagem em suas vidas e convicções. Para estes autores, conforme já deixaram registrado, em algumas publicações de sua autoria, é dever de todo cientista cristão demonstrar a superficialidade daqueles que ignoram a natureza multifacetada da causalidade.

O tema do projeto de 2023 foi idealizado, a partir do livro organizado por Berry (2016), com a reunião de vinte cientistas atuantes em diferentes campos da Ciência e que apresentam seu relato de como a atividade científica e a fé se relacionam e integram suas vidas e convicções.

Se compreendida corretamente e, assim se entende, a Ciência representa um encorajamento à Fé, e não uma barreira a essa, como destaca a apresentação do livro organizado por Berry (2016). E isso é relevante enquanto perspectiva social e cultural, especialmente, no âmbito brasileiro, em que há, no contexto recente, muita confusão, questões pouco compreendidas além das bulhas entre Ciência, Política e Fé religiosa.

 

 

Resultados e Discussões  

Desde o início, a temática envolveu o ensino, a pesquisa e a extensão, estes dois últimos de forma mais propositiva e deliberada.

No ensino, percebemos que o tema tem gerado interesse entre professores universitários da UFMT e de outras instituições pelo Brasil. Alguns estão escrevendo e registrando seus próprios projetos de extensão. Além disso, a interação entre os campos tem sido discutida em disciplinas como, História e Filosofia da Ciência como forma de ampliação do conhecimento.

No âmbito da pesquisa, um projeto foi registrado no Comitê de Ética[1] e a temática culminou em um trabalho de conclusão de curso (Santos, 2020), um trabalho de iniciação científica (PIBIC), uma publicação em periódico (Santos et al., 2020) e duas dissertações de mestrado profissional com seus respectivos produtos educacionais (Nóbrega & Soares, 2021; Campos & Soares, 2023).

Enquanto Projeto de Extensão Universitária, a ação vem se aproximando da sociedade e revelando a possibilidade de se discutir, não apenas pontos de vistas, mas fundamentos teóricos, históricos e filosóficos a respeito do que seja Ciência, de como se faz Ciência e sua relevância para a humanidade. Da mesma forma, nos encontros presenciais e virtuais, se discute o que seja Religião, de qual Religião se está falando e qual a sua importância para a sociedade. Sempre buscando a possibilidade do diálogo que promove o duplo crescimento, tanto acadêmico quanto cultural.

O Projeto de Extensão para 2023 prevê a produção escrita de resumos, resenhas, artigos e comunicações orais, a partir do ambiente universitário para que os interessados, dos mais diversos campos do conhecimento, conheçam autores, como: Eric L. Johnson, C. S. Lewis, Egbert Schuurman, Bob Goudzwaard, Michel Villey, John Lennox, Jhennifer Wiseman, Alister McGrath, Fiódor Dostoiévski, Rosalind Picard entre outros.

O prefácio do livro organizado por Berry (2016) faz um destaque para a afirmação de Peter Medawar, que foi:

laureado com o Prêmio Nobel (e que não é cristão), “não há limites ao poder da ciência para responder o tipo de pergunta que ela é capaz de responder”, mas o fato de que a ciência possui [...] limites é demonstrado em razão de haver perguntas que ela não pode responder, e que nenhum avanço concebível dela a autorizaria a responder [...] não é possível extrair dos axiomas e postulados de Euclides um teorema relativo a como preparar uma omelete ou fazer um bolo”. Ele conclui: não se deve esperar que a ciência forneça soluções para problemas como o sentido da vida ou a existência de Deus” (The Limits of Science, Oxford University Press, 1984) (Berry, 2016, p.12).

 

Neste ano, são os próprios integrantes do grupo que apresentam seus estudos a respeito dos autores supracitados. Todos preparam suas análises fazendo o levantamento da biografia, das obras, das principais ideias e explanam sobre suas teses defendidas. Para isso, constituem um texto e uma comunicação oral. O Projeto prevê a organização e a publicação de uma obra com estas produções.

Por fim, o planejamento de extensão prevê, ainda, a realização de uma Jornada de três dias para o mês de dezembro de 2023. O tema explorado será: A tecnologia a serviço da boa vida: liberdade, ciência e fé. O convidado será o Doutor em História, Luiz Adriano Borges, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

 

 

Considerações Finais

Todos os participantes do Grupo de Estudos FÉCIÊ, enquanto Projeto de Extensão, estão em 2023, se reunindo duas vezes por mês, organizando-se em uma  primeira reunião presencial e a segunda feita de forma virtual, utilizando-se o canal do Youtube para as interações (https://www.youtube.com/@abc2feciecuiabamt2017).

Neste movimento, de base interdisciplinar e amistosa, participam não apenas professores e estudantes acadêmicos de graduação e de pós-graduação, mas também, pessoas da sociedade, professores e estudantes da escola básica, além de profissionais de áreas como: Direito, Engenharias, Psicologia, Filosofia e História. Nesta lista, que é mais ampla do que se pode listar aqui, há aqueles que são apenas curiosos ou que cresceram acreditando na ideia do conflito perene entre estes campos. Há, também, pessoas como esta autora, da área de Ciências Exatas (Química), da Biologia e da Física e que se envolvem com a formação de professores, trabalhando em prol de uma compreensão correta do que seja fazer ciência, porque se acredita que, subsequentemente, isso representará um encorajamento à fé e não uma barreira a esta.

No Brasil, já existem mais de sessenta grupos de estudos, nem todos como Projetos de Extensão, que estão igualmente desenvolvendo atividades nesta perspectiva. Todos estes grupos, incluindo o FÉCIÊ, por meio do WhatsApp, divulgam suas ações, criam e fortalecem uma comunidade intelectual aberta e sustentada teoricamente por seus integrantes e pela ABC2.

É uma proposta que, além de tempo e de dedicação, vem requerendo de seus participantes o desenvolvimento de algumas atitudes intelectuais virtuosas, como coragem, curiosidade, humildade e autonomia intelectual, juntamente com atenção e com foco, sustentadas pela diligência e pelo rigor, de modo que se alcance uma mente aberta e envolvida, também, por atitudes emocionais, como a empatia e a persistência para a construção de novos conhecimentos em torno do diálogo entre Ciência e Fé.

Este Projeto de Extensão visa, não apenas o desenvolvimento social, científico e cultural, mas também o cuidado intelectual com as informações, na busca pelo hábito de se fazer checagem dos pressupostos sobre qualquer tema que envolva a natureza da Ciência, da Religião, da criação, bem como das teorias e cosmovisões que sustentam as interações acadêmicas. Atitudes acadêmicas que vem promovendo a abertura estrutural da universidade destacando-a como ambiente adequado para avanços epistêmicos que não discrimina nenhum campo de conhecimento, nem o religioso.

 

 

Referências

Alexander, D. R. (2017). Criação ou evolução: precisamos escolher? Viçosa, MG: Ultimato.

Andery, M. A. P. A. et al. (2004). Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Garamond; São Paulo: EDUC.

Barbour, I. G. (2004). Quando a ciência encontra a religião: inimigas, estranhas ou parceiras? São Paulo: Cultrix.

Bancewicz, R. (Org.) (2013). O teste da fé: os cientistas também creem. Viçosa, MG: Ultimato.

Berry, R. J. (Org.). (2016). Verdadeiros cientistas, fé verdadeira. Viçosa, MG: Ultimato.

Campos, S. D. de L. & Soares, E. C.  (2023). Ensino de ciências naturais na interface com a religião. [livro eletrônico]: subsídios teóricos e historiográficos. Cuiabá, MT: Fundação Uniselva.

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McGrath, A. (2020). Ciência e Religião: fundamentos para o diálogo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil.

McGrath, A. (2017). O Ajuste fino do universo: em busca de Deus na Ciência e na teologia. Viçosa, MG: Ultimato.

Nascimento, V. (2016). O cristão e a universidade. Rio de Janeiro: RJ, CPAD.

Nóbrega, A. P. A. de & Soares, E. C. (2021). Ciência e Religião no Ensino de Ciências Naturais: Pode isso? [e-book]. Cuiabá-MT: EdUFMT. Disponível em: https://www.edufmt.com.br/product-page/ci%C3%AAncia-e-religi%C3%A3o-no-ensino-de-ci%C3%AAncias-naturais-pode-isso. Acesso em 11 jan 2023.

Numbers, R. L. (2020). Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre ciência e religião. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil.

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Plantinga, A. (2018). Ciência, religião e naturalismo: onde está o conflito? São Paulo: Vida Nova.

Plantinga, A. e Dennett, D. (2022). Ciência e religião são compatíveis? Viçosa: Ultimato.

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Ronan, C. A. (2001). História ilustrada da ciência da Universidade de Cambridge, volumes 1, 2, 3 e 4. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Santos, L. M. R. dos. (2020). Compreendendo a perspectiva dos residentes em Química da UFMT sobre a relação entre Ciência e Fé. TCC (graduação em Química) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Cuiabá.

Santos, L. M. R. dos., Soares, E. C. & Ribeiro, M. T. D. (2020). Modelos mentais de relação entre ciência e fé: desafios para a formação docente. REAMEC - Rede Amazônica De Educação Em Ciências E Matemática, 8(3), 362-377. https://doi.org/10.26571/reamec.v8i3.11092.

 

Biografía de autora

Elane Chaveiro Soares. Graduada em Licenciatura em Química (UFMT). Doutorado em Educação (PUCRS). Professora do Departamento de Química, na área de Ensino (UFMT). Pesquisadora do LabPEQ. Orientadora no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Naturais. Grupo de Estudos ABC2/FÉCIÊ -Instagram: fe.cie_abc2_cuiaba

 

 

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[1] Pesquisa: O Desenvolvimento Profissional Docente em Ciências e Matemática e as Crenças religiosas: considerar, superar ou transformar? (Parecer CAAE: 14198719.2.0000.5690, nº: 4.732.649, 25/03/2021).